quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A GRANDE DAMA DO CHAMPAGNE

Por Tessália Tegon

Filha de Nicolas Ponsardin, empresário de sucesso de
Indústria têxtil em Reims, Barbe-Nicole Ponsardin
nasceu em 16 de dezembro de 1777 na «Rue Cèrés»
centro da cidade, em sua casa. Cercada de Luxo e
riqueza no coração de um importante centro industrial.
Barbe-Nicole passou sua infância ao lado dos pais e
de dois irmãos mais novos.
Educada no convento real de Saint-Pierre-les-Dames,
saiu da abadia escoltada pela costureira da família,
disfarçada de camponesa em meio aos tumultos da
fervorosa Revolução Francesa em 1789.
Seu pai conseguiu preservar a riqueza e a segurança
da família abraçando a causa revolucionária, alcan-
çando importância politica e mantendo segredo da sua
real preferência política e religiosa.
Aos 20 anos de idade Barbe-Nicole casou-se com
François Clicquot, filho de uma família de prósperos
mercadores, também do ramo têxtil em Reims, cujos
interesses se estendiam ao setor vinícola da região.
As duas famílias reuniram-se num porão úmido de
forma clandestina para realizar a união, pois a prática
da religião estava abolida e qualquer rito católico era
considerado crime.
Há relatos que esse porão pertencia a família Clicquot
e eram passagens subterrâneas interligadas, esse
conduzia até a casa onde o jovem casal começaria
sua vida. Estes porões cruzavam mais de 400 Km sob
a cidade. Diz a lenda que eles foram construídos por
escravos Romanos que retiravam pedras do solo para
as construções que viriam a se tornar o que hoje é a
cidade de Reims. Os grandes espaços deixados pelos
pedreiros romanos formavam uma espécie de cate-
drais subterrâneas escuras e silenciosas, onde os
homens de negócios, como o pai de Barbe, utilizava
como depósito.
Ao contrário de um sonho de casamento por amor
Barbe-Nicol e François se casaram numa decisão
econômica entre as duas famílias. François era um
rapaz de grande entusiasmo, boas idéias e ao contrá-
rio dos maridos da época, gostava de compartilhar
tudo isso com a esposa. Eles receberam dos pais do-
tes em dinheiro, uma grande fazenda e dois moinhos,
terras, uma pequena floresta e uma grande extensão
de campos em Tours-sur-marne. Eram excelentes
propriedades no coração rural do vinho francês.
No primeiro ano de união eles eram jovens, ricos e
com uma paixão pela expansão do comércio de vinhos.
Nesta época Napoleão Bonaparte declarou-se consul
da frança dando uma virada no governo, o que fez com
que Barbe-Nicole retomasse seu estilo de vida conhe-
cido na infância.
Em meados de 1801 François decidiu sair pelo mundo
para vender seu vinho, a meta dos comerciantes da
época era, seduzir anfitriãs elegantes das cidades,
persuadindo-as a consumir seus produtos. Numa das
viagens conheceu Louis Bohne, que viria a se tornar o
maior vendedor da casa levando o nome da Clicquot
Ponsardin para toda Europa e principalmente Asia.
Nos primeiros anos no mercado de vinhos, François
desanimou, onde esperava um grande sucesso de
vendas elas apenas haviam sido modestas, e a
Inglaterra não aceitava seu produto.
Contam que Barbe-Nicole costumava acompanhar o
marido em suas incursões aos vastos campos da
champagne, já de madrugada ela estava observando
tudo. Seu lugar preferido durante a vindima era a cida-
de de Bouzi, onde ficavam os vinhedos da avó de
François, que por ser filho único, herdaria um dia.
A maior alegria de Barbe-Nicole era estudar o vinho e
o talento para as combinações de assemblage era dela.
Em 1804 François pretendia espandir o mercado para
o leste, Russia, o que começou com um fracasso.
Cansado e consumido por ansiedade começou a cair
em depressão. Contraiu uma febre infecciosa que os
médicos  da época chamavam de febre pútrida ou ma-
ligna, outras gerações viriam a conhecê-la como Febre
Tifóide.
No dia 23 de outubro de 1805 François morreu
deixando viúva Barbe- Nicole e uma filha chamada
Clementine.
Barbe-Nicole não desistiu de seus sonhos no setor
vinícola e encontrou apoio em seu sogro Philippe com
a condição de submeter-se a um aprendizado de 4
anos com um sócio escolhido por ele, Alexandre
Jerome Forneau.
Com Napoleão no poder e o advento da Revolução, os
portos estavam fechados tornando quase impossível o
transporte dos vinhos para outras localidades, a viuva
então começou a idealizar formas de enviar seus vinhos
como contrabando, mesmo conhecendo os riscos da
fiscalização e da manutenção dos produtos e a Rússia
começava a interessar-se pelo Veuve Clicquot,
Champagne róseo com alta docilidade.
Com o mercado entrando e saindo de crises constan-
temente em função da guerra, Barbe-Nicole, não en-
contrava tranquilidade, porém não parava de lutar pelos
seus objetivos. Em 1810, descontente com os resultados,
Alexandre retirava-se da sociedade deixando a viuva
sozinha em seu empreendimento. O sogro Philippe
reeinvestiu na empresa que passou a se chamar Veuve
Clicquot Ponsardin e Companhia.
Em 1811 Napoleão e Rússia entravam novamente em
guerra e o mercado conquistado por Barbe-Nicole ame-
açado. A safra havia sido maravilhosa, com condições
climáticas nunca antes vistas. Após o engarrafamento o
produto iria descansar por uns meses o que de imediato
era um alívio, mas a guerra traria os campos de batalha
para Reims, e isso aconteceu em 1813.
A viuva sabia que se suas adegas fossem saqueadas
ela iria a bancarrota e sua melhor safra era sua principal
preocupação. Assim antes que as tropas chegassem ela
mandou emparedar as entradas da adega. O vinho po-
deria esperar na escuridão até o fim da guerra.
A entrada do príncipe russo Sergei em Reims, serviu
como uma jogada de marketing, com a pilhagem fora
proibida por ele e o espumante Veuve Clicquot fazia o
gosto deles, doce e encorpado, o que fosse consumido
durante a ocupação seria a certeza de venda após o
término da guerra.
Com a desocupação de Reims Barbe-Nicole resolveu
arriscar-se numa manobra muito perigosa. Fretou um
navio para zarpar rumo a Russia com milhares de gar-
rafas do seu produto. Assim q os portos fossem abertos
bastava percorrer um breve caminho e estaria no seu
destino. O plano secreto teve ótimo resultado, assim
que chegou ao seu destino as vendas explodiram e ela
teve que mandar mais um carregamento.
Sendo a primeira a chegar no mercado Barbe-Nicole
deslanchou. No verão de 1815 estava a frente de um
Império Comercial, sendo uma das primeiras mulheres
da era moderna a alcançarem tal feito, mesmo com o
absurdo de obstáculos que teve que superar.
Barbe-Nicole merece  crédito por 3 grandes
feitos: 1- a internacionalização do mercado do
champagne; 2 -  a identificação da sua marca e; 3 - o
desenvolvimento do processo conhecido por remuage.
A idéia do «remuage» veio para tentar clarificar se pro-
duto tirando a borra depositada na garrafa. Desacredi-
tada por seus colaboradores a viuva pediu que pegas-
sem sua mesa da cozinha e a colocassem na adega
fazendo buracos no tampo do tamanho exato para caber
o gargalo da garrafa emborcada em um determinado
ângulo, ela mesmo colocou cada garrafa no seu lugar e
após seis semanas teve a satisfação de descobrir que
bastava um gesto rápido para tirar e recolocar a rolha a
fim de que todo resíduo espirra-se para fora sem afetar
o vinho e sem demora no trabalho. Esse sistema per-
maneceu em segredo durante quase uma década.
Passados seus 40 anos Barbe-Nicole pretendia se apo-
sentar e com isso doar sua  companhia para alguém de
sua confiança, já que não acreditava no empenho e ca-
pacidade de sua filha e gênro, acabou desistindo da idéia.
Em 1822 a viuva resolveu retomar a indústria têxtil dos
Ponsardin e dos Clicquot e fundar o Banco Veuve
Clicquot e Companhia, o que se tornou um desastre.
Em 1826 dissolveu sociedade com Gerge Christian Von
Kessler que ficou com as fábricas têxteis estrangeiras, e
iniciou a liquidação do banco.
Em 1831, em troca de um investimento (pequeno) de 2
milhões de dólares, ela deu a Edouard Werlé 50% da
sua companhia.
Com 64 anos de idade (1841) Barbe- Nicole se apo-
sentou mas, continuou orientando os negócios nos
bastidores, enquanto Edouard tomava a frente da
Veuve Clicquot Ponsardin Werlé. Ela só se aposentou
aos 89 anos de idade deixando o seu império nas mãos
de Edouard Werlé que passaria para seus descendentes .
Em 1860 entra em cena o Champagne Brut a fim de
suprir o mercado Inglês, quem inventou o Champagne
ainda hoje conhecido foi Louise Pommery, também viuva,
controlava a Pommery e Gheno sendo a última mulher da
geração de mulheres poderosas no ramo da Champagne.
Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin morreu no final de julho
de 1866 aos 89 anos de idade, justamente no período do
amadurecimento das uvas, época que ela mais apreciava.
Foi lembrada após sua morte como a Rainha não coroada
de Reims.
Hoje, o famoso rótulo cor de laranja da Veuve Clicquot
pertence a Möet Chandon que foi seu maior concorrente
durante toda a sua história e o preferido por Napoleão
Bonaparte.